sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Desperdiçou

Passo a passo arrumou suas malas
(sem hesitar)
Pegou a chave e saiu
(sem hesitar)
Excluiu-se das redes sociais
Não me atende quando insisto em ligar

Não se despediu
somente saiu
Coração doendo
que você despedaçou
Vou voltar a viver
Deixar de sofrer
juntar os cacos do amor
que você desperdiçou...

Nada é pra sempre, vou seguir a vida
(não vou chorar)
Não é facil, mas vou superar
(Sim, sem chorar)
Coisas nossas e fotos rasguei e queimei
Não quero me lembrar que amei você...

Não se despediu
Somente saiu
Coração doendo
Que você despedaçou
Vou voltar a viver
Deixar de sofrer
Juntar os cacos do amor
Que você desperdiçou

Um dia eu sei que vai parar e pensar
vai chorar quando de mim lembrar
você vai perceber o erro que fez
Que pena, porque será tarde demais...

Não se despediu
Somente saiu
Coração doendo
Que você despedaçou
Vou voltar a viver
Deixar de sofrer
Juntar os cacos do amor
Que você desperdiçou...

Não é por nada não... Mas estou me tornando uma ótima compositora de músicas de fossa!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O atendente.

Era a última quarta-feira de abril. O sol castigava os habitantes da pequena Tabira e, como a feira principal da cidade era nesse dia, o excesso de pessoas contribuíra para um calor insuportável e uma poluição sonora na base de gritos dos feirantes e as difusoras dos carros de som.
Naquele dia me acordei com o miolo azedo. Tinha 16 anos, estudava à tarde magistério e à noite, Ensino Médio, tinha afazeres em casa e uma TPM daquelas. Naquela quarta fui presenteada com uma cólica anormal, ao mesmo tempo comum às moiçolas de minha idade. Fui correndo para o banheiro e notei uma mancha vermelha e viva na calcinha. Fazia 3 anos que tinha ocorrido minha menarca mas ainda não tinha me conformado em deixar de ser a "menina de painho" pra ser a "moça de mainha".
Após tomar meu café, minha mãe me chama para fazer compras na feira. Eu odiava, pois na minha mente os maiores burburinhos e fofocas sempre ocorriam na feira, sem contar que aquele monte de gente me apertando me deixava mais irada, principalmente na minha terrível TPM. Chorei, esperneei, pedi a pelo amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo que não me levasse, que estava com o corpo doendo, mas não teve jeito: O ultimato de Dona Graças só tinha uma alternativa, e esta era ir pra feira e ponto final.
Fui com as cólicas e olheiras roxas pela TPM e vermelhas pela nuvem de lágrimas que tinha feito em casa. Senti-me mal quando cheguei na praça, fiquei branca. O moreno da minha pele sumia dolorosamente e meus lábios, normalmente rosados, ficaram cianos. Estava gelada e sentia uma brisa escura. Pensei que ia morrer, quando realmente minha mãe percebeu que estava morrendo, disse preocupada:
- Vamos à farmácia...
No interior, a ausência de ginecologista era grande e na minha época as mulheres ainda relutavam em passar com médicos ginecologistas, e preferiam as mulheres. Daí o melhor jeito era ir nas farmácias e saber o que tinha de melhor para sintomas da menstruação.
Chegamos na farmácia, a melhor da época. Um rapaz veio nos atender. Lindo: nariz delicado, boca desenhada simetricamente, sorriso perfeito e pele branca. Os cabelos castanhos bem cortados faziam poesia ao aferir minha pressão arterial.
- o que a "moça" tem, Dona Graças.
-Cólicas, irmão. 16 anos e sofre de cólicas todos os meses. É um bebêzão...
Nessa hora quis morrer de verdade. Virei camaleoa, o branco dava lugar ao vermelho da vergonha. Não tem necessidade de me chamar de bebê, mas minha mãe insistia (só se deu conta que não era mais bebê há 4 anos).
- Esse é o melhor: ******* (não vou fazer mershandising), a moça quer tomar aqui?- perguntou olhando fixamente para mim. Fascinada, balancei a cabeça.
Tomei a medicação e aos poucos a dor foi passando. No mundo teen tem as histórias em quadrinhos que sempre tem a mocinha e o herói. Naquele dia senti que tinha encontrado o meu herói, um anjo...
Aquela quarta-feira ficou marcada na minha mente e foi uma das únicas que gostei. A sensação de liberdade de movimentos juntou com a descoberta do amor adolescente. Minha última paixonite tinha sido o tecladista da minha Igreja na época, mas como ele namorava minha amiga, abdiquei pois nunca quis furar o olho de ninguém.
Fiquei curada das cólicas mas com dor no coração... Graças ao atendente.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A moça velha I (a resposta de vovó)

Sempre fui uma moça família. Adoro conversar com meus avós e tios-avós, o papo é para mim uma aula, ministrada por quem tem PHD na escola da vida. Com eles, aprendo história, filosofia, sociologia... e claro, dou longas risadas com os causos da época de outrora.
Teve a história da mangueira, cujo episódio resultou em mangas suculentas para minha mãe e cipoadas secas em meu tio Dida; a história da cobra corre-campo que quase mata meu tio Lula de susto; a história do forró no sítio e mainha, esperta como sempre, correu para casa por um atalho no mato escuro enquanto Dida conhecia o cinto de couro do meu avô estrada afora, e por aí vai. Os filhos casam, vem os netos: Eu e Paulo, de mainha... Dani e Naty de Lula... Dida coitado, se casou com a cachaça após levar um não da noiva faltando uma semana para o casamento (coisas de novela)... E assim segue a vida...
Sou a mais velha dos quatro netos de vozinha. E a única solteira da geração 80 da família Gomes. As primas de minha idade já se casaram, já tem priminhos... Eu preferi os livros: A minha sede por conhecimento é tanta que resolvi adiar o sonho de casar e ser mãe, apesar de sonhar com uma família igual aqueles comerciais de margarina e iorgute.
Terminei a faculdade, e com isso um leque de decisões a tomar. Novos horinzontes, fui pedir conselhos a minha avó e para minha surpresa ela diz:
- Rafinha, já terminou seus estudos, porque não arruma um namorado e se casa?
Olhei pra minha vó boquiaberta. Respondi com doçura:
- Vozinha, aqui não tem ninguém que me interessa... E também ainda não tinha pensado nisso...
Dona Laura me surpreende com mais uma de sua respostas:
- Mas deveria pensar. Já está com quase 25 anos, já está moça velha...
O relógio do tempo bateu na minha cara com essa resposta. Após alguns minutos em silêncio, despedi de minha vó e fui para casa, matutando, perguntando-me "25 anos? casar-me?".
Subo as escada rapidamente, entro em casa e como um foguete vou para meu quarto. Abro meu armário, me olho no espelho (tudo estava em seu lugar, nenhuma ruga sequer). Mais aliviada, fui pensar...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Causos de Tabira- Parte II (O Doce de Cana)

Quando um nordestino vai embora para o eixo Rio-São Paulo, é normal que fique sintonizado com a cultura de lá, e essa mistura toda me interessa e me deixa fascinada...
Mas como nem tudo é flores, há pessoas que estrapolam todos os limites da miscigenação, e criam um personagem, que como diz meu avô Sebastião "chia mais que uma radiola velha". Esse personagem geralmente desenvolve aminésia, pois esquece suas raízes. O sujeito fica com duas personalidades e sabemos que, sujeito com dupla personalidade é louco, tresloucado.
A história que irei narrar aqui aconteceu em 2003, nessa época eu estudava o 3º Ensino Médio na minha querida Carlota Breckenfeld, à noite...
Beleza: O fato é que uma colega de escola foi passar as férias de janeiro em São Paulo. Começou as aulas, todo mundo feliz, afinal é o último ano da turma explosiva do 3EMB.
Tava todo mundo conversando quando de repente surge ela: De sainha jeans, blusinha branca e sapatilhas pretas... Tudo igual... mas ao abrir a boca... uma ilegítima paulista, que deixou até eu, paulista de nascimento com direito a registro no cartório de Utinga barbarizada.
Mas não parou por aí...
Ao terminar as aulas, costumeiramente saíamos para a pracinha da cidade para comer algo e jogar conversa fora. Fui escutando chiadeira até chegar lá (QUE TORMENTO).
Estamos na pracinha, muito legal, aí aquele ET surge na minha frente e diz:
- Rafaaaa, estou afim de comer docinho dxi cana...
- Docinho de Cana? _ Perguntei, fora de órbita
- É, Docinho de Cana, Vamos lá no Lula do Osxcar saber se ele tem?
E lá fui com ela saber o tal docinho... Não conhecia, será que era um novo doce da moda?
Chegamos a Budega de Lula de Oscar (onde tem o melhor doce de leite cremoso da cidade), um casarão antigo, mas que resistia firme aos arranha-céus vizinhos.
- Minha filha eu não tenho esse doce não.
Aí ela vai saindo meio que desanimada quando olha pra cima, numa prateleira e vê um pote com pedaços amarronzados de rapadura, chegadas do Engenho de Triunfo naquele dia. Ela linda e fechosa aponta para o bendito pote fazendo alarme:
- Olha... Ali... Doce de Cana!!!!!
Não acreditei. Passei a mão na cara indignada e seu Lula era só sorrisos. Que mico! Que louca! Após o choque, seu Lula diz:
- Minha filha, aprenda a falar nordestino e oxente... Isso aqui não é doce de cana não! Isso é Rapadura! Rapadura do Engenho de Triunfo!
Ela saiu da Bodega com seu pedacinho de Rapadura, e eu "estourando pelas costas". Ah, mas eu contei pra todos os meus colegas sobre o fato e... depois... o apelido do ano dela foi "docinho dxe cana" pronunciado num legítimo sotaque paulistês!

Causos de Tabira- Parte I (Expressões Pernambucanas)

Todo pernambucano que se preze tem seu linguajar, que é mais que um dialeto, é uma forma de mostrar que você se encontra no habitat natural. E acontece assim mesmo em Tabira.

Como 99,9% das pessoas sabem, eu não nasci nessa terrinha árida de um povo que, mesmo com os dramas da seca e da desigualdade social, ficam com um sorriso de um canto a outro. Apesar dos pesares, é um povo feliz!

Mas fui adotada, e como diz aquele ditado "mãe não é a que tem, mas a que cria", sou uma legítima tabirense e pernambucana por adoção e coração, com direito a oxentes, sotaque forte (graças a ele falo alemão q-u-a-s-e-d-i-r-e-i-t-i-n-h-o) e claro as expressões.

Expressões, pode falar muito sobre você... é um código... Melhor que o de Leonardo da Vinci... Bem melhor que criptografias... Quem chega não entende... Mas aqui sabemos muito bem o que significa obrigado!

Para os marinheiros de primeira viagem , vou deixar algumas expressões, no mínimo curiosas:


  • VIRADO NO MOLHO DE COENTRO: Estar com tudo e não devar nada a ninguém.

  • ESTOURAR PELAS COSTAS- Quando a pessoa está com raiva e não desabafa com ninguém.

  • ESTAR COM A BEXIGA LIXA- Estar com tudo

  • ESTAR COM A BOBÔNICA- Estar com tudo, versão interior.

  • CÃO CHUPANDO MANGA- O Sabe tudo (na Paraíba é conhecido como "tampa de crush")

  • PEGAR AR- Quando você tá já se chateando com algo...

  • CU-DE-BOI- Confusão

  • DE ROSCA- Aldo que demora pra ser realizado.

  • TRIBUFU- mulher feia (isso eu não sou hihihi!)