segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Causos de Tabira- Parte II (O Doce de Cana)

Quando um nordestino vai embora para o eixo Rio-São Paulo, é normal que fique sintonizado com a cultura de lá, e essa mistura toda me interessa e me deixa fascinada...
Mas como nem tudo é flores, há pessoas que estrapolam todos os limites da miscigenação, e criam um personagem, que como diz meu avô Sebastião "chia mais que uma radiola velha". Esse personagem geralmente desenvolve aminésia, pois esquece suas raízes. O sujeito fica com duas personalidades e sabemos que, sujeito com dupla personalidade é louco, tresloucado.
A história que irei narrar aqui aconteceu em 2003, nessa época eu estudava o 3º Ensino Médio na minha querida Carlota Breckenfeld, à noite...
Beleza: O fato é que uma colega de escola foi passar as férias de janeiro em São Paulo. Começou as aulas, todo mundo feliz, afinal é o último ano da turma explosiva do 3EMB.
Tava todo mundo conversando quando de repente surge ela: De sainha jeans, blusinha branca e sapatilhas pretas... Tudo igual... mas ao abrir a boca... uma ilegítima paulista, que deixou até eu, paulista de nascimento com direito a registro no cartório de Utinga barbarizada.
Mas não parou por aí...
Ao terminar as aulas, costumeiramente saíamos para a pracinha da cidade para comer algo e jogar conversa fora. Fui escutando chiadeira até chegar lá (QUE TORMENTO).
Estamos na pracinha, muito legal, aí aquele ET surge na minha frente e diz:
- Rafaaaa, estou afim de comer docinho dxi cana...
- Docinho de Cana? _ Perguntei, fora de órbita
- É, Docinho de Cana, Vamos lá no Lula do Osxcar saber se ele tem?
E lá fui com ela saber o tal docinho... Não conhecia, será que era um novo doce da moda?
Chegamos a Budega de Lula de Oscar (onde tem o melhor doce de leite cremoso da cidade), um casarão antigo, mas que resistia firme aos arranha-céus vizinhos.
- Minha filha eu não tenho esse doce não.
Aí ela vai saindo meio que desanimada quando olha pra cima, numa prateleira e vê um pote com pedaços amarronzados de rapadura, chegadas do Engenho de Triunfo naquele dia. Ela linda e fechosa aponta para o bendito pote fazendo alarme:
- Olha... Ali... Doce de Cana!!!!!
Não acreditei. Passei a mão na cara indignada e seu Lula era só sorrisos. Que mico! Que louca! Após o choque, seu Lula diz:
- Minha filha, aprenda a falar nordestino e oxente... Isso aqui não é doce de cana não! Isso é Rapadura! Rapadura do Engenho de Triunfo!
Ela saiu da Bodega com seu pedacinho de Rapadura, e eu "estourando pelas costas". Ah, mas eu contei pra todos os meus colegas sobre o fato e... depois... o apelido do ano dela foi "docinho dxe cana" pronunciado num legítimo sotaque paulistês!

Um comentário:

Anônimo disse...

EITA, RAFAELA!!!
NUNCA QUERO DEIXAR MEU SOTAQUE DE PERNAMBUCANO...OXENTE!!