terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sinfonia para a morte


Morrer: A morte (do latim morte), o óbito (do latim obitus) são termos que podem referir-se tanto ao términio da vida de um organismo tanto ao estado desse organismo após o evento...

(portal wikipédia.com)


Sangue pra todo lado, choro, desespero. Único filho de uma senhora, várias irmãs. Mulheres transvestidas do negro cor de luto.

Estava indo para sua casa, localizada na zona rural da cidade, em cima de sua carroça de bois, veículo de tração animal comumente usado por estas bandas, e em cima meio quilo de feijão para alimentar a família por mais uma semana. De repente, três disparos, três sons agudos de balas que atravessaram seu crânio certeiramente. Sentado na carroça, ao poucos definhava, os bois pararam, como que sentindo a dor e a agonia daquele homem. Veio um cara, chamou-o pelo nome e este entregou o seu espírito ao Ser Supremo com um mero suspiro, se entregando a uma suposta sensação de paz e alívio que só os doentes terminais buscam.

Ruídos da sirene da polícia chegam ao hospital, que já está repletos de curiosos loucos para assistir a mais uma peça que a vida dirigiu, o último ato daquela morte e vida severina, na qual o que restava era um pouco de terra bem medida para a pouca carne que sobrava daquele indivíduo.

Sangue pra todo lado... o agudo das balas, a tragédia na vida das pessoas...

Mas ainda não acabou...

Enquanto assistira a sinfonia da morte no hospital, outra sinfonia se preparava na boca da tarde. Era um senhor, depressivo, angustiado, já se sentindo morto pela vida e pelas suas adversidades antes mesmo do final que a todos espera. Não quis dar trabalho para a morte, que já estava ocupada com toda aquela situação da manhã, resolveu fazer tudo sozinho, mas diferente da última tentativa: Não mais iria rasgar a garganta e deixar brotar na pele alva o vermelho do sangue. Não iria mais deixar que se permitisse um festival de escarlate que só o sangue derramado na terra pode fazer. Iria deixar o seu sangue derramar sim, mas por dentro, silenciosamente, calmo como a sinfonia de um violino, suave como uma flauta. Tomou veneno e esperou, quando socorreram, já estava em coma, não dava mais tempo para nada. Ganhou sua guerra contra a vida e, triunfante, conquistava os lauréis de seu prêmio tão esperado para aliviar sua dor interna, aquela que muitos humanos não entendiam. A morte reinava soberana, fielmente soberana, e mais um rosário de choros e lamentações cheios de porquês tomava conta daquele hospital, mais uma vez os curiosos iriam prestigiar, gratuitamente, a trágédia alheia que a vida lhes proporcionara mais uma vez...

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