quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Na noite passada eu fui te visitar

Era 2 da manhã.
Tinha terminado meus trabalhos noturnos: Lido um livro sobre cultura popular e feito um resumo dele, costume esse que tenho desde os 10 anos. Tabira dormira profundamente, até mesmo Sansão, meu companheiro de aventuras fonéticas não tinha resistido e acabou caindo exausto em meus pés. Guardei todos os trabalhos feitos na noite, o livro que ficara pintado de amarelo fluorescente. deixei o meu quarto e, como fantasma que flutua sem fazer o mínimo de barulho, fui até a cozinha, abri a geladeira, peguei a caixinha de leite geladinho e despejei num copo azul enorme. Tomei tudo em questão de segundos. Com o copo na mão e escorada na cadeira preta da cozinha, passei a meditar em tudo que tivera ocorrido naquele dia: o trabalho, as vendas de mamãe, o apelo emocional que meu irmão faz toda vez que quer algo de sua irmãe... Mas a principal cena do dia estava guardada para mim à noite, precisamente ao final dela: os olhares, a cor, a voz preciosa do anjo cujo argumentos me fascinam cada dia. Sorri, senti-me iluminada, radiante. Dirigi-me ao quarto com aquele olhar marcado em minha mente e aquela voz tão calma e gostosa em meu ouvido. Adormeci.
Comecei a visualizar um corredor, cautelosa, andei vagarosamente sobre ele. Me deparei com uma porta de madeira entreaberta. A medida que abria a porta, a escuridão era expulsa e dava passagem para a luz do corredor. Entre livros e a televisão ainda ligada, o perfume inebriante daquele lugar me confirmava que estava no território, do meu anjo. Olho para esquerda e vejo o anjo: de vermelho, dormindo profundamente. O fantasma que há em mim novamente flutua, levando-me mais para perto. Temo acordá-lo. Sento-me ao seu lado e começo a tocar levemente seus cabelos cor de prata, seu perfume deixa-me cada vez mais à vontade, me convida a deitar-me ao seu lado e não mais sair dele.
Talvez ele despertaria e, assustado, perguntaria o que eu estava fazendo em seu quarto. Talvez agiria tal qual o personagem principal do meu romance de cabeceira. Talvez nem me visse, pois aquilo era apenas projeção da minha cabeça cheia de sonhos, desejos, metas e realizações. Resolvi deixá-lo antes que o dia amanhecesse. Beijei sua testa demoradamente, cobri ele com o edredon assim como as mães fazem com os filhos pequenos e caminhei cuidadosamente até a porta, que fechei vagarosamente. Caminhei até a extremidade do corredor, onde ao longe já visualizava a minha cama forrada com uma colcha vinho de cetim, e chegando até ela, adormeci ou pelo menos, dei continuidade ao sonho.

Um comentário:

Geraldo disse...

Ouso personificar teus mais impúberes desejos que brotam condescendentes de carinho alheio, provendo uma forma para contemplação. Dissipo em atributos almos a volúpia do querer, te envolvendo feito aura por acarinhadores braços. Deleitosamente transgrido teus incontidos limites, percorrendo serenamente tua pele, assentando em teu colo, sorvendo surdamente teu aroma, eriçando delicadamente teus pelos. Alçando-te das fronteiras do real, transporto-te impregnada de paixão pelas vastidões longínquas a que os amantes se lançam. Onde o indesejável retorno é somente uma sentença da decepção.